domingo, 14 de abril de 2013

[DRE, parte 01, o Lucro Bruto] Identificando uma boa empresa


Virar sócio de uma empresa não é comprar VALE ou Petrobrás porque todo mundo fala que são grandes empresas. Você não é obrigado a comprar as chamadas blue chips. Virar sócio de uma empresa não é comprar CEMIG ou ELETROPAULO porque você ouviu falar que são empresas sólidas e que sempre pagam bons dividendos. Você não é obrigado a comprar elétricas só porque todo mundo fala que sempre pagam bons dividendos. Virar sócio de uma empresa não é comprar BANCO DO BRASIL porque 8 em cada 10 blogueiros a possuem na carteira. Você não é obrigado a se tornar sócio de bancos porque eles ganham muito dinheiro. Virar sócio de uma empresa é estudar sobre a mesma tudo que estiver a nosso alcance. Muita gente leva mais tempo pra escolher um fogão nas Casas Bahia do que para escolher uma ação nesse vasto mercado. Não há mais desculpas para escolhas erradas, pois atualmente temos acesso a uma infinidade de informações, e saber usá-las é fundamental. Você pode ou não comprar qualquer uma das empresas citadas acima, mas compre com consciência, estude as empresas antes.

Hoje darei início a uma nova série, "Análise de Empresas - DRE", que tem como objetivo fazer uma análise fundamental do demonstrativo do resultado do exercício, detalhando os itens mais relevantes a serem observados.
Para investidores adeptos do "Buy & Hold", é muito importante saber analisar o DRE, assim como o Balanço Patrimonial e o Fluxo de Caixa, temas que serão abordados futuramente.

O DRE nada mais é do que o resultado de uma empresa em determinado período, seja ele trimestral, semestral ou anual. Começarei com três componentes básicos: a receita, as despesas e o resultado dessa equação, o lucro bruto. Através das demonstrações anuais, podemos separar uma empresa boa de uma empresa ruim. É importante analisar as margens (bruta e especialmente a líquida), o ROE (Return On Equity, que mostra se a empresa aproveita bem seu patrimônio para gerar lucro), o LPA (Lucro Por Ação), e finalmente, se a empresa possui lucros constantes e crescentes no decorrer dos anos. É importante salientar que todos os indicadores são válidos, mas nenhum deles de forma isolada serve para identificar uma boa empresa.

"Você precisa entender de contabilidade e deve compreender as nuances dessa ciência. Esse é o idioma dos negócios, um idioma imperfeito, porém, a menos que esteja disposto a fazer o esforço de aprender contabilidade - como ler e analisar demonstrações financeiras -. não deveria escolher ações por conta própria." - Warren Buffett

Para esta série, tomei como base o livro "Warren Buffett e a análise de balanços", que fala de forma simples e clara sobre como aprendemos a descobrir se uma empresa tem ou não uma vantagem competitiva durável, o que nos ajuda a decidir se vale a pena fazer parte do quadro societário da mesma. Contudo, trata-se de uma tarefa menos simples do que comprar um fogão, mas que pode lhe ajudar a "ganhar" seu próximo utensílio doméstico, ou até mesmo garantir sua tão almejada independência financeira.

Neste capítulo, assim como nos demais, utilizarei 03 empresas listadas na Bovespa, sendo que duas delas fazem parte da minha carteira:



Acredito que seja um pouco óbvio para a maioria das pessoas envolvidas com investimentos em ações quais destas três empresas são boas e quais são ruins. Contudo, vamos deixar os números falarem por si. O objetivo aqui é meramente educacional, portanto não estou indicando nenhuma empresa para compra. Esta série não entrará nos méritos de precificação. A meta é apenas esclarecer o DRE com exemplos reais.


Chegando no Lucro Bruto



Para conhecermos o lucro bruto, que é o primeiro indicador relevante da DRE, precisamos entender dois fatores importantes: a receita e o custo dos bens vendidos.


Receita


A receita de venda de bens ou serviços informa o volume de produtos ou serviços vendidos no período. No caso das empresas Grendene, Usiminas e Manuel Dias Branco, os dados acima se referem ao terceiro trimestre de 2012. Embora a receita indique o valor total que entrou nos cofres das empresas no período citado, estes números não dizem muita coisa. É preciso deduzir as despesas da receita total. Consiste a receita operacional Bruta:


  • Vendas de Produtos;
  • Vendas de Mercadorias;
  • Prestação de Serviços;
A Receita Operacional Líquida é o resultado das devoluções de Vendas, abatimentos, impostos e Contribuições Incidentes sobre Vendas.



Custos dos bens vendidos

O custo dos bens vendidos representa o custo da compra de bens que a empresa está revendendo ou os custos de matéria-prima e da mão-de-obra. Por exemplo, a MDias Branco precisa pagar pelo trigo usado na produção de biscoitos e massas e pela mão-de-obra usada para produzi-los. Ainda é muito cedo para conclusões, mas aqui já podemos saber o lucro bruto das empresas analisadas. Contudo, podemos ver aqui que a Usiminas gastou mais com custos de bens vendidos do que sua receita, o que não é nada bom!


Lucro Bruto

O lucro bruto é um número muito importante quando começamos a analisar empresas. Conforme o quadro acima, basta subtrair os custos dos bens vendidos da receita para chegarmos ao lucro bruto. É importante dizer que ainda não entramos na dedução de custos de vendas, gerais e administrativas. Com esta informação, podemos chegar na margem bruta da empresa, o que pode nos ajudar a decidir se vale a pena continuar analisando.

Para calcular a margem bruta, basta dividir o lucro bruto pela receita e teremos o seguinte resultado:



Boas empresas possuem boa margem bruta, mas este número pode variar de setor para setor. Contudo, podemos pegar uma margem média de maneira geral para sabermos se uma empresa pode continuar como candidata a entrar em nossa carteira, como por exemplo, não investir em empresas com margem bruta inferior a 30%. No caso das três empresas estudadas aqui, poderíamos descartar por segurança a Usiminas, por possuir uma margem bruta muito ruim no trimestre.

Não basta olhar um resultado de um trimestre para escolher uma empresa. A margem pode variar de um trimestre para o outro, portanto é importante avaliar vários períodos, de preferência dos últimos 10 anos, em intervalos anuais, se possível. Assim, podemos saber se a empresa mantém uma margem consistente. Também, um DRE deve ser analisado com o balanço patrimonial e o fluxo de caixa, tópicos que serão discutidos futuramente.

O que gera uma margem bruta alta é a vantagem competitiva durável de uma empresa. Veja por exemplo, a ótima margem da Grendene, de 50,30%, que indica que a empresa pode possuir uma vantagem competitiva durável, pois ela tem a liberdade de estabelecer o preço dos seus produtos, o que gera maior receita. A margem bruta da Usiminas indica que a empresa enfrenta dificuldades no momento, o que já vem ocorrendo há bastante tempo. a Mdias Branco obteve a margem bruta de 39,20% no período, o que indica uma excelente margem, tratando-se de uma empresa de consumo de alimentos, um mercado normalmente bastante competitivo.

Mesmo uma empresa com uma margem de lucro bruto alta pode se perder. Portanto, não basta pegar estes números e tomar decisões importantes. Por exemplo, de nada adianta ter uma margem de lucro bruto alta e possuir muitas despesas de vendas, gerais e administrativas, de pesquisa e desenvolvimento, depreciação de ativos imobilizados, entre outras.

Estudar empresas começa assim, não é muito complexo, mas você precisa dedicar um tempo a essa atividade se pretende se tornar sócio de algumas delas. Dê valor ao seu dinheiro!

Em breve, a parte 02 desta série vai mostrar como chegar no Lucro Operacional




----------------------------------------
Referências
Livro "Warren Buffett e a análise de BALANÇOS", de Mary Buffett e David Clark
RI Grendene.
RI Usiminas.
RI Mdias Branco.

1 comentários:

  1. Gostei muito da sua didática em explicar o passo-a-passo da DRE, aprendi mais um pouco com seu texto. Parabéns!

    Carlos

    ResponderExcluir